Coletivo ARX, José Mateus e Nuno Mateus

José Mateus, arquiteto fundador do coletivo português ARX, a quem se juntou o irmão Nuno, é um dos nomes de destaque no panorama da arquitetura desenvolvida em Portugal. A sua prática assenta numa abordagem, como nos revela, apoiada na história, na técnica e na experiência, numa dimensão experimental que deve surgir naturalmente ao longo do processo de desenho.

Que período mais marcante destacaria no seu percurso como arquiteto?

O primeiro, e fundamental, foi quando iniciei o atelier ARX com o meu irmão, depois de vários anos a trabalhar com outros arquitetos. Mas foram muito marcantes os períodos em que fiz os meus programas ‘Tempo&Traço’ na SIC Notícias e as revistas ‘Linha’ com o semanário ‘Expresso’, bem como a fundação da Trienal de Arquitectura de Lisboa. Em tempos recentes, quando passei a desenhar regularmente projetos em Lisboa.

Como descreveria a sua abordagem à arquitetura?

Tem sido uma procura intensa do específico em cada projeto, apoiada na história, na técnica e na experiência, numa dimensão experimental que deve surgir naturalmente ao longo do processo de desenho. No essencial, a minha abordagem não se desviou muito desde o início da minha prática, com o benefício da experiência adquirida ao longo do tempo.

Um projeto que deixa boas memórias.

Felizmente vários, não consigo isolar um. Recentemente desenhei um puxador de que gostei imenso.

O(a) arquiteto(a) / coletivo de referência.

Álvaro Siza Vieira.

O projeto até hoje por si gizado mais ‘desafiante’ e bem sucedido.

Por mim e pelo meu irmão, o projeto expositivo do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, na Expo 98.
Nos últimos tempos, a torre de habitação no nº 203
da Rua Castilho, em Lisboa.

Como é vista a arquitetura praticada atualmente fora de portas?

Felizmente, há hoje muitos arquitetos portugueses a trabalhar com os melhores arquitetos do mundo e também a fazer os seus próprios projetos fora de Portugal. Penso que a elevada quantidade de prémios internacionais, bem como de publicações sobre projetos portugueses, não deixa espaço para dúvidas de que há uma perceção de competência da arquitetura produzida por portugueses.

Qual é a situação atual da arquitetura sustentável em Portugal? É ainda uma área com muitos condicionalismos?

A arquitetura popular portuguesa, tal como foi praticada durante séculos até ao séc. XX, fosse ela baseada na alvenaria de granito, xisto, adobe ou taipa, sempre foi exemplar em termos de sustentabilidade. Fora do campo dessa arquitetura popular ancestral, embora exista hoje o conhecimento técnico, alguma consciência da urgência, ainda escassa, e a legislação que obriga a vários níveis, ainda temos um longo caminho a percorrer.

Trabalhar com o preexistente revela-se mais complexo e sensível? Que dificuldades encontram neste tipo de projetos?

Um arquiteto trabalha sempre com o preexistente, em arquitetura não existe tábula rasa. Quando existe valor patrimonial relevante, torna-se extraordinariamente interessante, pois trata-se de estabelecer um diálogo entre linguagens diferentes, tempos diferentes, mudanças de programa, etc. A dificuldade, mas também a grande motivação, é fazê-lo bem, conseguindo também que novas e antigas tecnologias trabalhem em simbiose.

O que há a ter em conta na hora de desenhar e construir?

O programa funcional e económico, o contexto físico e social, os indícios que podem ser o princípio da composição de uma narrativa específica, única.

O material de eleição atualmente e porquê.

O tempo, na medida em que quase tudo no desenho depende dele. Seja numa reflexão sobre a ideia de resistência e perenidade, seja pela possibilidade de desenhar algo que evolui e ganha qualidades com o tempo. Por essa razão, tenho-me interessado em desenhar diversas peças de latão.

Um bom conselho para quem quer ser arquiteto.

Leia, viaje muito e prepare-se para um vida dura
de trabalho.

Uma casa funcional e bonita deve ser...

Um refúgio, um lugar de redenção.

Três utensílios de cozinha que nunca podem faltar.

Um wok, uma boa faca e um saca-rolhas.

O minidoméstico mais útil na sua cozinha.

Se o micro-ondas não é considerado um ‘minidoméstico’, diria a chaleira eléctrica.

Um edifício a conhecer na próxima viagem.

Não um edifício, mas um conjunto, o Machu Picchu, que nunca consegui visitar.

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